Nesta 3a entrevista dessa temporada da série "5 Perguntas sobre o Futuro", tenho o prazer de compatilhar o registro desse papo virtual com o Cezar Taurion.
O Cezar é Partner e Head of Digital Transformation da Kick Corporate Ventures e presidente do i2a2 (Instituto de Inteligência Artificial Aplicada).
Tive o prazer de conhecer o Cezar em um painel em que debatemos sobre o Futuro dos Negócios e do Trabalho.
É um estudioso da área de tecnologia desde o final da década de 70. Foi Diretor de Novas Tecnologias Aplicadas e Chief Evangelist da IBM Brasil, além de ter sido sócio-diretor líder da prática de IT Strategy da PwC.
É Mentor e Investidor de Start-ups, Professor, Autor de livros...
Nesse papo, falamos, entre outras coisas, sobre:
As principais dificuldades que Líderes e Executivos estão tendo nesta Era Digital.
O perfil das organizações que estão tendo sucesso neste cenário de transformações.
O Futuro do Trabalho.
1. Cezar, ao longo da sua carreira, você já passou por diversas transformações no mundo corporativo. Quais são as coisas que estão acontecendo de forma totalmente diferente de tudo que você já viu antes na sua carreira?
Comecei na época de ouro dos mainframes, com IBM 360/370. Programando Cobol e Assembler.
O uso da computação era restrito, pois o acesso era feito via terminais que ficavam nos escritórios. Só no trabalho podia-se usar computadores e apenas para tarefas profissionais.
Passei por várias mudanças tecnológicas, como o advento dos mini computadores, o PC e mais recentemente o smartphone. O que vejo hoje é uma mudança muito mais acelerada que qualquer outra.
A velocidade com que as tecnologias surgem e provocam mudanças é fantástica e continua acelerando. A exponencialidade faz parte de nossa vida. E é um desafio!
Compreender uma função exponencial, quando pensamos linearmente é algo muito difícil. Embora a sociedade humana sempre tenha passado por transformações, a que vivemos hoje é a mais acelerada e intensa que já aconteceu. E ainda nem começou! E, sabe, fico feliz em poder participar deste momento!
2. Qual a principal dificuldade que Líderes e Executivos estão tendo nesta Era Digital?
As mais recentes inovações da era da Internet, como a mobilidade, com seus smartphones, a IA e as redes sociais, estão provocando rupturas na maneira como as pessoas se comunicam, colaboram e trabalham.
Este fenômeno afeta a maneira como as empresas se organizam, eliminando funções e criando novas. Os custos de transação estão diminuindo rapidamente.
E como resultado, tudo o que aprendemos no século passado sobre gestão de grandes corporações requer séria reconsideração.
Temos tanto a necessidade quanto a oportunidade de elaborar uma nova forma de organização econômica e uma nova ciência de administração que possa lidar com a realidade estonteante das mudanças no século 21.
O desafio principal é que muitos dos executivos ainda não perceberam o alcance destas mudanças. Continuam olhando seus negócios à luz das experiências passadas e dos modelos mentais do século 20.
Uma empresa construída para ser vencedora no século não sobreviverá no século 21 se não se adaptar para o século 21.
O desafio para as empresas que estão em vias de sofrer disrupção é que esse fenômeno é exponencial, mas passa desapercebido no seu início.
Dificilmente, quando o mercado de um produto digital é pequeno, ele é percebido, mesmo crescendo exponencialmente (0,1%, 0,2%…).
Quando é notado, lá pelos 4% do mercado, como geralmente pensamos linearmente, ele ainda não é visto como uma grande ameaça, e as empresas já existentes tentam impedir seu crescimento apelando para regulações, via de regra anacrônicas, incapazes de contemplar as inovações digitais. Aí, já é tarde demais...
3. Quais organizações você que estão tendo sucesso nessa Era de Transformação? Qual a razão desse sucesso?
As vencedoras são aquelas que identificaram a diferença entre a disrupção digital e a tradicional dinâmica competitiva ao qual estamos acostumados e que aparece em dois fatores: velocidade e amplitude da mudança.
Um disruptor digital usa sua inovação para, de forma exponencial, escalar participação de mercado.
O desafio para as empresas baseadas em modelos de negócio predominantemente físicos é que o ritmo das mudanças é tão rápido, e elas não podem mais reagir como o fizeram no passado. Precisam de novos modelos de inovação e crescimento. Se não se tornarem ágeis e inovadoras, é provável que não sobrevivam no longo prazo.
O modelo de inovação da era industrial propõe que as empresas aloquem 70% de seus recursos para inovar no seu core business, 20% para setores adjacentes ao seu core business e apenas 10% para transformação, que significa descobrir e explorar novas necessidades dos clientes.
Hoje estima-se algo bem diferente, como no máximo 40% a 50% no core business, 25% em espaços adjacentes e 25% na transformação.
Talvez, no futuro breve, a inovação no core business fique apenas em 25% e os outros 75% em adjacentes e, principalmente, questões transformacionais!! As que entenderam isso estão sendo as vitoriosas.
4. Qual o Futuro do Trabalho? O que será diferente na forma como trabalhamos hoje?
Em janeiro de 2016, durante o Fórum Mundial de Davos, seu chairman Klaus Schwab disse que uma mudança estrutural estava em andamento na economia mundial, no que seria o início da Quarta Revolução Industrial.
Segundo ele, esta revolução aprofundaria elementos da Terceira Revolução, a da computação e faria uma “fusão de tecnologias, borrando as linhas divisórias entre as esferas físicas, digitais e biológicas”.
Na opinião de Schwab, esta nova revolução, unindo mudanças socioeconômicas e demográficas, terá impactos nos modelos e formas de fazer negócios e no mercado de trabalho.
Afetará exponencialmente todos os setores da economia e todas as regiões do mundo. Mas não do mesmo modo. Haverá ganhadores e perdedores.
“As mudanças são tão profundas que, da perspectiva da história humana, nunca houve um tempo de maior promessa ou potencial perigo”.
O mercado de trabalho será afetado dramaticamente, inclusive com trabalhos intelectuais mais repetitivos substituídos pela robotização. As mudanças são reais. Já estão aí.
Os impactos no mercado de trabalho já vem sendo debatido, com algumas previsões apocalípticas estimando que em 10 a 15 anos cerca de metade das vagas de funções como operadores de telemarketing, corretores, carteiros, jornalistas, desenvolvedores de software e outras terão desaparecido, pelo uso de softwares e robótica encharcados de algoritmos inteligentes.
Mas a grande ameaça aos empregos não está mais na indústria.
A IA e robótica estão chegando ao setor de serviços. Hoje são capazes de dirigir veículos, atender clientes em serviços de telemarketing, preencher formulários de Imposto de renda, etc.
Ainda são os primeiros passos, mas com a evolução exponencial da tecnologia, estes passos se acelerarão muito rapidamente.
Embora o discurso dos fornecedores de tecnologia e das empresas envolvidas seja sempre o de que o produto vai aprimorar o trabalho das pessoas e não substituí-las, é inevitável que a cada habilidade aprendida pelos computadores, milhões de empregos tenderão a desaparecer.
A tecnologia, ao longo do tempo, vai reduzir a demanda pelos postos de trabalho que demandam menos habilidades, como exatamente são os operadores de telemarketing.
Foi assim nas linhas de produção robotizadas, nas funções de datilografia, nos ascensoristas e hoje, na redução significativa das vagas de secretariado.
Enfim, é uma discussão que está apenas começando. Mas a realidade vai vir rapido e ignorar a transformação que está ocorrendo no mundo não vai impedi-la de acontecer e chegar aqui.
As máquinas são nossas ferramentas, mas pode chegar o momento em que não seremos mais capazes de controlá-las. Portanto, precisamos decidir como queremos viver com elas. É uma discussão que não pode ser adiada.
5. Quais as suas dicas para quem deseja estudar e saber mais sobre as novas tecnologias?
Aprender deve ser contínuo. Não existe mais as fases de estudar, trabalhar e se aposentar. O aprendizado e o trabalho serão contínuos.
Não teremos mais uma única carreira, mas várias carreiras.
Precisamos estar preparados para nos adaptarmos às mudanças que sempre virão e em velocidades da vez mais aceleradas.
Provavelmente devemos nos tornar mais generalistas e menos especialistas, até para nos adaptarmos mais rapidamente. Não fique concentrado em um tecnologia, mas nos impactos que ela pode provocar. Aplique tecnologia ao negócio e à sua atividade.
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Sobre a série "5 Perguntas"
Se você curtiu esse papo com o Cezar Taurion, você também poderá curtir dos outros papos que tive com Executivos e Especialistas.
Neste ano, já conversamos com:
a. A Caroline Hannickel, que falou sobre Ciências Cognitivas e Gestão de Desempenho.
b. O João Paulo Pacífico, Fundador do Grupo Gaia, que falou sobre a Cultura Organizacional da sua Empresa e de seus estudos sobre Felicidade no Trabalho.
E se você quiser conhecer TODAS AS ENTREVISTAS que foram realizadas no ano passado, você vai poder conferir papos com dois dos mais importantes Futuristas do mundo, CEOs, Executivos de RH, Especialistas em Educação Corporativa, Jornalistas.
É só clicar nesse link ou na imagem abaixo! :-)
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