IA e 'Bullshit Jobs': como evitar que a sua empresa vire uma fábrica de trabalhos sem sentido.
- André Souza
- há 2 dias
- 5 min de leitura

A IA pode ser a sua maior aliada ou multiplicar trabalhos sem sentido na sua empresa.
O que vai definir isso? As escolhas que a sua liderança fizer agora.
Nesse artigo, compartilho 4 ações para evitar que a IA crie mais irrelevância do que resultados.
Vamos lá?
Ouça um Resumo desse Artigo em Áudio!
Se você quiser um resumo em áudio (criado no NotebookLLM do Google), é só dar o play no episódio abaixo! E aproveite para seguir a FUTURO S/A no Spotify.
Você já deve ter visto essa grande promessa da IA sobre o futuro do trabalho:
“A IA vai assumir tarefas operacionais, repetitivas e de baixo valor, liberando os humanos para se concentrarem em atividades estratégicas, criativas e significativas.”
Parece perfeito, né?
Mais tempo para pensar, criar e inovar.
Menos trabalho operacional.
Atuar de forma mais estratégica.
Mais tempo e qualidade de vida.
Mas..... e se essa promessa não se transformar em realidade?
A transformação do trabalho não vai acontecer por decreto. Para isso acontecer, será preciso intenção, redesenho de funções e coragem para quebrar velhos modelos de gestão.
A verdade é que, sem um redesenho consciente do trabalho, a IA pode acelerar o crescimento de trabalhos que o antropólogo David Graeber chamou de “Bullshit Jobs”.
De acordo com Graeber, que foi professor da London Business School, "Bullshit Jobs" são empregos que existem apenas para manter a aparência de produtividade, mas que geram pouco ou nenhum valor real.

'Bullshit Jobs' não são trabalhos difíceis ou mal remunerados.
São cargos bem pagos, com status e confortáveis, mas que podem ser tão inúteis que o mundo (e até a própria empresa) não sentiria a sua ausência.
Graeber descreve esses tipos de trabalho como aquele “onde até a própria pessoa que ocupa o cargo acredita, em segredo, que o trabalho não deveria existir.”
Pesado, né?
Nesse vídeo de 3 minutos, o próprio Graeber explica um pouco do conceito...
A redefinição do sentido do trabalho depende de decisões humanas, culturais e organizacionais.
A IA é uma ferramenta poderosa, mas não vai transformar a sua empresa sozinha. O que fazemos com o tempo que vamos ganhar depende de decisões humanas, culturais e organizacionais.
Mas se essas decisões não forem intencionais, a gente poderá ver as pessoas realizando tarefas com pouco ou nenhum valor... em escala!
Veja:
1. A IA não ensina o que fazer com o tempo extra.
Se as pessoas não desenvolverem habilidades como análise crítica, criatividade e inovação, as pessoas tendem a buscar tarefas que mantenham a sensação de utilidade mesmo que essas tarefas gerem pouco ou nenhum valor...
2. O trabalho irrelevante pode escalar junto com a automação.
Antes da IA, um trabalho irrelevante poderia feito por uma pessoa. Com IA, podemos automatizar processos inteiros que não produzam valor. Na prática, poderemos ver a velocidade de tarefas irrelevantes aumentar!
3. Velhos hábitos podem ocupar o espaço que deveria ser estratégico.
Se a empresa já valorizava mais “estar ocupado” do que “entregar resultados”, a IA só acelera a produção de atividades irrelevantes: mais relatórios que ninguém lê, mais reuniões desnecessárias, mais indicadores sem uso real etc.
Ou seja: a automação pela automação pode criar uma ilusão de eficiência. Na prática, a IA poderá, na verdade, multiplicar o desperdício em escala.
"OK, André... Qual é a solução, então?"
O problema de um potencial crescimento dos Bullshit Jobs com o avanço da IA não é algo tecnológico. É cultural e estrutural.
Por isso, a solução exige ações coordenadas entre líderes, executivos e a área de RH em algumas áreas.
Veja:

1. Redesenhar cargos e fluxos de trabalho
Eliminar funções simbólicas e processos redundantes (esse aqui talvez seja um dos itens mais difíceis de eliminar nas empresas).
Avaliar se um processo realmente gera valor antes de automatizá-lo.
Reconfigurar papéis operacionais.
2. Desenvolver competências estratégicas
Treinar todos para o uso crítico e criativo da IA.
Fortalecer habilidades humanas: liderança, pensamento sistêmico e colaboração.
Criar programas de desenvolvimento que ampliem a visão de negócio.
Pensamento crítico e influência: em um mundo de abundância gerada por IA, a capacidade de distinguir o que vale a pena prestar atenção se torna o recurso mais escasso.
3. Construir uma cultura de resultados.
Medir resultados e impacto real das pessoas.
Recompensar quem gera valor, não quem aparenta estar ocupado.
4. Definir a estratégia de aplicação da IA
Formar comitês multidisciplinares para definir onde e como aplicar IA.
Garantir que todos (e não só a elite) tenha acesso a ferramentas e treinamentos.
Ser transparente sobre as mudanças e preparar as pessoas para novos papéis.
É preciso direcionar o uso da IA para impulsionar a ESTRATÉGIA e a CULTURA que a sua empresa precisa!
A IA é uma ferramenta poderosa, mas não vai transformar a sua empresa sozinha.
Se líderes não agirem com INTENÇÃO sobre o seu uso estruturado, podemos ter, em pouco tempo, empresas com muitas ferramentas novas, mas poucos resultados.
Por outro lado, ao agirem de forma bem direcionada, as empresas podem ter times que usam a tecnologia para amplificar impacto, valor e resultados.
Vão sair na frente as empresas que conseguirem pensar na IA não como uma ferramenta de eficiência corte de custos, mas como um instrumento de transformação cultural.
Veja o comparativo na atuação e nos resultados...
Se a IA for mal direcionada (Automatizamos a irrelevância) | Se a IA for bem direcionada (Maximizamos os Resultados) |
Tempo liberado pela IA será utilizado por ainda mais tarefas irrelevantes. | Tempo livre dedicado a resolver problemas estratégicos e desafios reais. |
Cultura de “parecer ocupado” | Cultura de impacto e entrega mensurável. |
Produção de relatórios e dados que ninguém usa. | Geração de insights que geram decisões de negócio. |
Redução de oportunidades para cargos júniores, enfraquecendo a formação de talentos. | Criação de trilhas de aprendizado e experiência prática para novas gerações. |
Menos líderes preparados no futuro, comprometendo o negócio. | Pipeline constante de líderes preparados para manter e fazer crescer a empresa. |
Ilusão de eficiência digital (mais rápido, mas inútil) | Eficiência real que reduz desperdícios e aumenta valor |
IA utilizada para substituir pessoas. | IA utilizada para potencializar a capacidade de entraga das pessoas. |
Utilização da IA apenas com uma ferramenta de corte de custos e eficiência. | A IA utilizada para criar novos produtos, serviços e modelos de negócio. |
O futuro da sua empresa não será decidido pela IA de forma isolada.
Será decidido pelas escolhas que você e seus líderes fizerem agora.
E na sua empresa? Qual é a sua avaliação sobre a utilização da IA até o momento?
Como a I.A. tem sido implementada na sua empresa?
De forma estratégica e bem direcionada.
Mal direcionada e de forma tática-operacional.
Sobre o autor
André Souza é fundador e CEO da FUTURO S/A, consultoria que ajuda a realizar transformações na cultura, na estratégia e no RH de grandes empresas.
Ao longo de sua carreira, André atuou como Executivo de RH liderando equipes e projetos na América Latina, EUA e Europa em grandes organizações como Bayer, Monsanto, Coca-Cola Company, Newell Brands & Nokia.

André é formado em Administração pela UERJ e Mestre Acadêmico em Administração de Empresas pela PUC-Rio.
Além disso, possui certificação internacional como Master Trainer da StrategyTools na Noruega e em “Futures Thinking & Foresight” pelo Institute for the Future em Palo Alto, na Califórnia (EUA);
André é autor de 4 livros:

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