Se alguém mencionar a palavra "Cultura" é bastante provável que a gente se lembre automaticamente da famosa frase "A Cultura come a estratégia no café da manhã".
Independente da controvérsia se foi Peter Drucker que escreveu ou não a frase, o fato é que ela se tornou um ícone quando se fala em cultura organizacional.
Muitas pessoas interpretam a frase considerando que a Cultura seria um elemento mais importante que a Estratégia em uma organização.
Ou que, independente da estratégia, seria a cultura o elemento que determina se um negócio terá sucesso.
Mas se a gente parar para analisar com mais profundidade a frase, podemos descobrir algumas nuances importantes.
Estratégia e Cultura são igualmente importantes e essenciais para qualquer empresa. Estratégia e cultura não competem. Elas atuam em sinergia. Ambas precisam estar conectadas para que uma empresa tenha sucesso!
A primeira coisa que a gente precisa analisar é o contexto em que essa frase começou a se tornar popular.
Há 20 anos, Cultura ainda não era um tema presente como é hoje. Na verdade, Cultura estava muito distante da realidade, do discurso e da prática da maioria das empresas.
Muitos poucos líderes falavam do tema. Nessa época, as grandes estrelas eram os grandes pensadores em Estratégia como os onipresentes Michael Porter (As 5 Forças de Porter), David Norton e Robert Kaplan (Balanced Scorecard), Mintzberg (5 Ps), entre outros.
Talvez um dos grandes méritos da frase "A Cultura come a Estratégia no Café da Manhã" tenha sido dar luz à importância do fator humano e da cultura para as empresas.
É uma frase poderosa, que chamava a atenção e fazia as pessoas refletirem sobre a importância do fator humano em uma mudança de era no mundo dos negócios.
Como já destaquei nesse outro post, com a chegada da Internet e depois dos smartphones, o mundo dos negócios passou a vivenciar uma mudança de era.
As empresas começavam a descobrir que o fator humano começava a gerar muito mais valor para as empresas. Softwares, criação de marca, propriedade intelectual e dados multiplicavam os resultados e o valor das organizações.
Assim, cultura começou ganhar destaque. As empresas naturalmente começaram a perceber que desenvolver a cultura era uma forma poderosa de atrair os talentos que as empresas precisam.
Esse é um movimento bastante parecido com o que estamos vivenciando hoje. A grande realidade das empresas hoje é que há uma competição acirrada por talentos digitais. E o desafio é ainda maior, pois com a ascensão do trabalho virtual, essa competição passou a ser global.
Em paralelo, as empresas têm visto muitos profissionais qualificados tomando a decisão de migrar para outras empresas e mercados. E nem sempre o fator principal é a remuneração.
Atrair e engajar talentos se tornou uma prioridade nas empresas. Esse é um dos motivos que faz com que tanta gente fale em Cultura atualmente.
Mas falar sobre Cultura é a parte mais fácil da história. Liderar o desenvolvimento e a evolução da culturas nas empresas é que é a grande missão dos líderes nas empresas.
Só tem um problema: muitos executivos e empreendedores ainda não sabem exatamente como liderar e desenvolver a cultura em suas organizações. E isso é absolutamente natural. Afinal, se a gente parar para pensar, "Cultura" é um tema relativamente recente nas empresas.
Por conta de todas as experiências que vivi no mundo corporativo e também na Futuro S/A trabalhando em conjunto dezenas de grandes empresas, não tenho dúvidas da importância da Cultura para o sucesso de uma organização. Mas sem uma Estratégia e um ótimo modelo de negócio, uma empresa pode naufragar - mesmo que tenha uma Cultura espetacular.
Veja: sua empresa pode ter uma cultura fantástica. Pode atrair ótimos talentos e investidores. Mas se a sua estratégia e o seu modelo de negócio não estiverem conectados ao que o mercado precisa, sua empresa enfrentará problemas.
Cultura é absolutamente essencial para o sucesso de uma empresa. Mas sem Estratégia e um Modelo de Negócios que gere resultados, uma empresa pode naufragar - mesmo que tenha uma cultura fantástica.
Mesmo uma empresa com uma cultura fantástica pode ver seus negócios colapsarem por conta de uma estratégia equivocada. Até mesmo uma empresa criada por Steve Jobs!
Quando Steve Jobs deixou a Apple em 1985, ele usou parte de seu capital para criar uma empresa de computadores chamada NEXT.
E Jobs direcionou a empresa para criar um computador com o melhor da tecnologia, tendo como público-alvo o ensino superior, a pesquisa acadêmica e o mercado corporativo.
Steve Jobs e o primeiro computador da NeXT
Mas toda essa grandiosidade acabou produzindo um computador que estava alguns anos à frente de seu tempo. Era uma máquina que resolvia problemas que as pessoas nem sabiam que tinham.
O fato é que a criação de uma máquina tão revolucionária elevou o preço além do que o mercado poderia suportar. Só para ter uma ideia, enquanto os computadores da época eram vendidos aproximadamente por US$700, a NEXT colocou o seu computador no mercado por US$ 6.500,00.
O mercado não estava preparado para aquele produto naquela época. O mercado de educação, que era um dos principais públicos-alvo da NeXT, não tinha orçamento para todo aquele investimento.
No final das contas, a empresa acabou se tornando um fracasso comercial.
Mas o problema estava longe de ser a Cultura da empresa.
Era uma empresa inovadora e ágil, com o DNA de Steve Jobs. Atraía grandes talentos 0 incluindo vários ex-funcionários da Apple.
Foi um time que criou um produto fantástico, executando com maestria a estratégia desenvolvida por Steve Jobs. O grande problema era que o modelo de negócios não estava adequado para o momento do mercado. E, em negócios, 'timing' é tudo.
Time inicial da NeXT com diversos ex-funcionários da Apple (com Steve Jobs à direita)
O fator humano: a estratégia por si só também não é suficiente.
Mas o fato é que a recíproca é verdadeira:
Não importa o quão sólida seja a sua estratégia. Se a sua empresa não consegue atrair os talentos certos para executá-la de uma forma engajada, seu negócio terá problemas.
E não adianta tentar copiar a cultura de uma outra empresa. Se você parar para observar, as empresas com maior valor de mercado têm culturas únicas. Apple e Amazon possuem filosofias muito distintas uma da outra. Microsoft e Facebook também.
Muitos empreendedores concentram-se no lado financeiro, comercial e legal do negócio. Mas esquecem de responder a uma pergunta complementar para um negócio ter sucesso:
Qual a cultura que a nossa empresa precisa desenvolver para atrair e engajar os talentos que vão transformar a nossa visão de futuro em realidade?
Ou seja: Cultura & Estratégia precisam caminhar juntos.
Precisam estar alinhados e conectados.
Mesa de Jeff Bezos em 1999.
Quando Jeff Bezos criou a estratégia de longo prazo da Amazon, um dos elementos-chave para o sucesso da empresa era criar uma empresa que trabalhasse com baixo custo - e assim cumprir a promessa de oferecer uma gama gigantesca de produtos aos clientes com o menor preço.
Do ponto de vista da Cultura, fazia total sentido conectar essa estratégia a uma cultura de frugalidade para desenvolver esse modelo mental nas equipes e líderes.
Esse é um dos princípios da cultura da Amazon. Veja o que a Amazon diz sobre frugalidade em seu site:
"Fazer mais com menos. Limitações estimulam a engenhosidade, a autossuficiência e a invenção. Não se ganham pontos extras por aumentar o número de empregados, o orçamento ou as despesas fixas."
É claro que essas palavras só passam a integrar realmente a cultura da empresa se for realmente praticado, valorizado e reconhecido de forma genuína pelas equipes e líderes na organização.
Enquanto isso não acontece, tudo que uma empresa terá são palavras bonitas na parede e no Powerpoint.... E o exemplo da imagem acima não poderia ser mais categórico nesse sentido. Para quem quiser ver uma parte dessa entrevista do Jeff Bezos, é só clicar aqui. Vídeo curto de apenas 1 minuto de duração. Vale o play!
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Bom, pessoal, em resumo:
Estratégia e cultura são igualmente importantes e essenciais em qualquer empresa. Estratégia e cultura, na verdade, não competem. Elas atuam em sinergia. E precisam estar conectadas uma à outra.
Estratégia e Cultura, na verdade, tomam juntas o café da manhã.
Um abraço e até a próxima!
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