Bem-vindo à era dos 'Super Workers'.
- André Souza
- há 12 horas
- 5 min de leitura

Imagem criada por IA
Lembra quando a fluência em inglês era o diferencial para conquistar uma boa vaga em uma empresa?
Pois é, prepare-se para responder a uma nova pergunta:
"Você fluente em IA?"
Em uma publicação recente no X (antigo Twitter), o CEO da Zapier diz que 100% das novas contratações precisam ter "Fluência em IA".

Após o anúncio, muitas pessoas pediram que ele explicasse melhor o que exatamente queria dizer com fluência em IA. Alguns dias depois, ele publicou uma visão geral de como pretende medir esse nível de fluência na Zapier:
Uma escala que vai de "inaceitável" até "transformador", passando por níveis intermediários como “capaz”, definindo o grau de adoção da IA no trabalho.
E há detalhes do que é esperado para cada função na empresa (Engenharia, Produto, Marketing, RH...).

(Se a imagem acima estiver pequena, vale a pena ampliar para ler com mais detalhes).
Além da Zapier, outras empresas também estão se movimentando com diferentes abordagens.
Entre tentativas, acertos e erros, o que percebemos é uma corrida por respostas para novos desafios que já começaram a bater na porta.
Como as pessoas vão trabalhar daqui para frente?
O que muda no papel dos líderes?
Quais as competências que precisamos?
Qual será o impacto na estrutura da empresa?
O conceito do "Super Worker"
O conceito de Super Worker, cunhado por Josh Bersin, traduz o que será exigido de cada um de nós daqui para frente.
Na prática, a IA não será encarada apenas uma ferramenta para automatizar tarefas repetitivas, mas uma parceira que ajuda a expandir as capacidades humanas, criando novas formas de entregar valor e desempenho.
O Super Worker é, fundamentalmente, aquele que utiliza a IA para escalar sua produtividade, performance e criatividade.
Ou seja: na visão de Bersin, a IA não vai substituir os trabalhadores.
A IA vai transformá-los em Super Workers.
A IA então se torna um co-criador, ouvindo, aprendendo e atuando com o humano. Isso redefine o que entendemos por "trabalho".
O Super Worker não é só quem faz mais. É quem faz melhor.
É o profissional que pensa além da sua área de expertise.
Conecta processos, otimiza decisões e entrega com inteligência.
Essa discussão em torno do Super Worker me lembrou do vídeo "O Robô Roubou" que criamos aqui em 2020, com base em um texto que escrevi em 2018 (!!!) e que já antecipava um pouco dessa simbiose entre humano e máquina..
5 ações para a transformar a sua organização.
Se quisermos nos preparar de forma consistente para a era da IA e dos Super Workers, há cinco movimentos que as empresas precisam colocar em prática agora:
1. Redesenhar o que é o trabalho e as funções na empresa.
A IA não é só uma ferramenta de automação: é um gatilho para redesenhar a estrutura organizacional.
A IA já está, em maior ou menor escala, fazendo com que a gente repense como o trabalho é estruturado, como os times se organizam e como o valor é entregue ao cliente.
É hora de refletir, com mais intenção, sobre dois pontos essenciais:
Mapear o fluxo de trabalho a partir do impacto no cliente (e não com base em cargos, departamentos ou diretorias).
Usar a IA para eliminar gargalos, automatizar o operacional, ampliar a qualidade das decisões e, principalmente, potencializar as habilidades humanas.

2. Criar um modelo dinâmico de talento, com uma abordagem mais flexível, com foco na mobilidade interna e no crescimento contínuo.
Trabalho não é mais sinônimo de emprego. As opções de carreira se multiplicaram e vão muito além do modelo tradicional.
Por isso, é fundamental repensar a proposta de valor da sua empresa para se conectar com novos comportamentos e necessidades das pessoas.
Já falei por aqui da Geração F.L.O.W.
Ao contrário das divisões cronológicas tradicionais (X, Y, Z, Alfa…), a Geração F.L.O.W. é definida por comportamentos pós-pandemia que independem da idade.

A gente observa essa mudança de comportamento no trabalho e em novas formas de enxergar a carreira.
A necessidade de mais autonomia e desenvolvimento estão fazendo as pessoas valorizarem cada vez mais a mobilidade interna, o aprendizado contínuo e trabalho por projetos.
Hoje, já existem ferramentas capazes de criar marketplaces internos de talentos movidos por IA, que sugerem projetos, treinamentos e mentorias com base em habilidades reais (e não só em cargos).
Isso abre caminho para que as empresas promovam short term assignments internos, conectando talentos a projetos estratégicos, além de suas funções oficiais.
3. Repensar modelos de remuneração e performance.
Funções, habilidades e entregas estão mudando mais rápido do que as políticas salariais conseguem acompanhar.
Modelos rígidos baseados em cargo + tempo + metas fixas já não refletem mais o valor que está sendo gerado.
É hora de criar mecanismos de recompensa específicos para quem domina IA e automação, reconhecendo quem traz eficiência, inovação e soluções de alto impacto.
Ou seja: recompense quem gera valor novo e não só quem cumpre entregas.
Avalie performance com base em impacto, adaptabilidade e uso estratégico da IA.

4. Refinar liderança e cultura.
Liderar na era da IA exige novas competências humanas:
Curiosidade digital
Abertura ao erro
Segurança psicológica
Orientação ao aprendizado
O líder do futuro precisa liderar “com” e “através” da IA e não apenas “acima de times”. Isso exige investimentos em formação comportamental, pensamento crítico, visão sistêmica e capacidade de adaptação.
5. Acelerar a Mudança para um RH Sistêmico: a Gestão Integrada de Talentos.
Para que essa transição seja bem-sucedida, o RH precisa assumir um novo papel.
Não dá mais para operar como um conjunto de áreas especialistas isoladas (recrutamento, treinamento, performance…). O RH deve funcionar como um ecossistema integrado, orientado por dados e conectado à estratégia da empresa.
Aqui na FUTURO S/A desenvolvemos o modelo dos 4 Es do RH de Alta Performance, que propõe o desenvolvimento de uma abordagem sistêmica:
Estratégia → Expertise → Execução → Evolução, conectando todos os processos e projetos a resultados tangíveis de negócio.

O RH precisa se tornar o facilitador que conecta os pontos entre pessoas, tecnologia e processos.
Isso não apenas transforma colaboradores em Super Workers, mas torna a empresa mais ágil, criativa e preparada para o futuro.
No fim das contas, o futuro do trabalho não é sobre ferramentas.
É sobre pessoas.
Pessoas que saibam usar as ferramentas certas, do jeito certo, para liberar o que há de mais poderoso nelas mesmas.
E é aí que o RH tem o potencial de gerar mais valor e impacto nessa nova era.
Sobre o autor
André Souza é fundador e CEO da FUTURO S/A, consultoria que ajuda a realizar transformações na cultura e no RH de grandes empresas.
Ao longo de sua carreira, André atuou como Executivo de RH liderando equipes e projetos na América Latina, EUA e Europa em grandes organizações como Bayer, Monsanto, Coca-Cola Company, Newell Brands & Nokia.

André é formado em Administração pela UERJ e Mestre Acadêmico em Administração de Empresas pela PUC-Rio.
Além disso, possui certificação internacional como Master Trainer da StrategyTools na Noruega e em “Futures Thinking & Foresight” pelo Institute for the Future em Palo Alto, na Califórnia (EUA).
André é autor de 4 livros: